No tocante ao livro “Manifesto do Partido Comunista”, de Karl Marx e Friedrich Engels


O livro utilizado foi encontrado gratuitamente na internet, no Portal Domínio Público, possuindo 21 páginas, no formato PDF. Em uma das versões existentes na Amazon é possível verificar a indicação de que se trata de um dos tratados políticos de maior influência na história. Publicado pela primeira vez em 1848, expressa o programa e propósitos da Liga dos Comunistas, que foi a primeira organização internacional marxista. O livro disponibilizado foi publicado de acordo com o texto da edição soviética, traduzida da edição alemã de 1848, tendo sido confrontado com a edição inglesa de 1888. Quando foi publicado pela primeira vez, o livro passou despercebido, ficando esquecido por quase duas décadas.

Karl Marx e Friedrich Engels foram os teóricos fundadores do socialismo científico que escreveram o livro. O primeiro foi filósofo, economista, historiador, sociólogo, teórico político e revolucionário socialista, tendo o livro ”O Capital”, em três volumes, como uma das suas principais obras. O segundo foi um empresário industrial e teórico revolucionário, que teve como uma de suas principais obras o livro “A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra”, que expõe as condições de vida dos trabalhadores na Inglaterra. Partiu do segundo a ideia de que os trabalhadores poderiam se tornar uma classe social e liderar a revolução. Foi Engels quem chamou a atenção de Marx para a economia política.

O Comunismo é o assunto abordado no livro. Trata-se de uma ideologia política que diz pretender estabelecer uma sociedade igualitária, por meio da abolição da propriedade privada, das classes sociais, e do próprio Estado, entendendo que com a abolição deste as formas de opressão social seriam eliminadas e a sociedade encontraria formas de se auto regulamentar. Como defende a abolição das fronteiras nacionais, com o fim do Estado, caracteriza-se como um movimento internacionalista. Tem por símbolos a foice e o martelo, a estrela de cinco pontas e a cor vermelha. Para autores comunistas, as condições de vida do homem, principalmente a econômica, determinam a sua consciência, desencadeando uma evolução da sociedade na direção da revolução.

A seguir, será realizada uma exposição sintetizada do livro “Manifesto do Partido Comunista”, de Karl Marx e Friedrich Engels, com algumas opiniões e reflexões sobre conteúdos específicos da obra.

Na introdução, o livro apresenta de forma muito breve a situação do comunismo na época do lançamento do manifesto, apontando para o fato de existir na Europa uma espécie de união contrária ao movimento, chegando-se ao ponto de indicar como comunistas rivais políticos, mesmo que não o fossem. Destaca que tal situação é um reconhecimento da força que o comunismo adquiriu naquele momento da história, sendo importante que os adeptos dessa linha de pensamento se exponham. Foi essa situação que gerou a elaboração do Manifesto Comunista.

Ao tratar dos burgueses e dos proletários, o manifesto expõe que a sociedade feudal deu origem à sociedade burguesa, mantendo os antagonismos entre as classes, mas os simplificando em dois campos: burguesia e proletariado. Indica que esse processo de desenvolvimento da burguesia moderna foi prolongado, contando com revoluções no modo de produção e de troca, tendo no governo um gestor dos negócios comuns. Aponta que a burguesia promoveu uma revolução submetendo as relações feudais, patriarcais e religiosas aos seus interesses, reduzindo tudo a simples relações monetárias. Entendo que com essa exposição, os autores dão importância a forma como o processo de chegada ao poder da burguesia se deu, vendo-o como uma fórmula para conduzir uma revolução.

Na obra, verifica-se que a burguesia se espalhou por todo o planeta, imprimindo um caráter cosmopolita à produção e ao consumo em todos os países, valendo-se do rápido aperfeiçoamento dos instrumentos de produção e do constante progresso dos meios de comunicação. Expressa que a burguesia centralizou os meios de produção, as propriedades e a população, criando, como nunca visto antes, grandes forças produtivas, submetendo o campo à cidade, tornando-se a classe dominante. Condiciona a existência da burguesia a uma incessante revolução dos instrumentos e relações de produção. Penso que a forma conduzida pela burguesia para a chegada ao poder e ao domínio hegemônico e global inspirou Marx e Engels para a elaboração do pensamento e da forma de agir dos comunistas.

No manifesto se encontra a afirmativa de que a burguesia se ergueu tendo por base os meios de produção e de troca gerados na sociedade feudal, os associando gigantescamente. Indica que este processo pôs em movimento forças que não podem ser controladas e que se voltaram contra a própria burguesia. Destaca a situação do proletário informando que é recrutado pela burguesia em todas as classes da população, sendo posto em movimento, como uma massa compacta, para alcançar objetivos estabelecidos pela própria burguesia. Verifica-se que os trabalhadores, como meio de produção e como mercado que propicia um grande volume de trocas, foram utilizados pela classe burguesa para a obtenção de um poder quase hegemônico.

No livro é posto que a burguesia vive em guerra perpétua, seja com a aristocracia ou com partes da própria burguesia, que contrapõem interesses. Atua de forma a destruir, pela concorrência, a organização do proletariado em classe, em partido político. Os autores expõem que da mesma forma que parte da nobreza passou para a burguesia, parte dos ideólogos desta passarão para o proletariado. Colocam a classe média como não revolucionária e conservadora, estando mais dispostas a vender-se a reação. Assim, o processo de conflito e desunião, dividindo as classes é posto como um mecanismo utilizado pela burguesia para superar a aristocracia e enfraquecer o proletariado.

Finalizando a parte que trata dos burgueses e proletários, o manifesto afirma que o proletário desenvolve suas relações de forma diferente da do burguês, seja com a propriedade, com a mulher, com os filhos ou com a família, sendo despojado pelo trabalho industrial moderno do seu caráter nacional. Coloca como missão do proletariado destruir todas as garantias e seguranças da propriedade privada, devendo estabelecer a sua dominação por meio da violência, destruindo as condições essenciais de existência da burguesia. Logo, é possível verificar a aceitação e propagação da violência, com idéias que promovem o ódio, não demonstrando preocupação com o fato de que violência gera ainda mais violência.

Ao tratar dos proletários e comunistas, o manifesto aponta que o partido comunista se distingue dos demais partidos operários por fazer prevalecer os interesses comuns do proletariado, independente da nacionalidade, e por representar os interesses do movimento em seu conjunto. Aponta, também, que se assemelha a todos os demais partidos proletários por ter o objetivo imediato de constituição de uma classe dos proletários, a derrubada da burguesia e a conquista do poder político. É plausível considerar que o manifesto coloca os comunistas como sendo os representantes dos proletários, não os dando a possibilidade de escolha ou de objeção, sendo utilizados como instrumento para que o partido chegue ao poder.

O manifesto prossegue em sua abordagem caracterizando o comunismo pela abolição da propriedade da burguesia, por suprimir o poder de escravizar o trabalho de outrem e por se intrometer na educação para mudar seu caráter e tirá-la da influência da classe dominante. Destaca que o burguês compreende a liberdade por meio da liberdade de comércio e de compra e venda, reduzindo as demarcações e os antagonismos nacionais com o mercado mundial, a uniformidade da produção industrial e suas condições de existência. Constata-se que o comunismo deseja destruir a burguesia, substituindo-a no poder e na dominação, exercendo o controle na educação e no comércio, nas questões nacionais e internacionais e nas condições da produção.

Fechando a parte sobre proletários e comunistas, a obra expõe que a revolução comunista é a ruptura mais radical com as relações tradicionais de propriedade e as ideias que a representa, tornando-se a classe dominante e conquistando a democracia e o poder político para oprimir a burguesia. Aponta que para alcançar o poder deverá utilizar a sua supremacia política para arrancar todo o capital da burguesia, centralizando todos os meios de produção nas mãos do Estado. Verifica-se que não há a intenção de se chegar a uma mudança gradual, equilibrada, harmônica e justa, com o desenvolvimento de ideias que busquem convergências. Busca-se apenas a tomada ou a chegada ao poder com a destruição daqueles considerados opostos.

Ao tratar da literatura comunista e socialista, o livro, inicialmente, trata do socialismo reacionário, colocando nessa categoria o socialismo feudal e o socialismo pequeno-burguês. Aponta que o socialismo feudal se desenvolveu na aristocracia como uma forma de contrapor-se à burguesia, defendendo interesses da classe operária explorada. Sobre o socialismo pequeno-burguês aponta que teve como precursores os pequenos camponeses e pequenos burgueses da Idade Média, analisando as contradições nas relações de produção moderna, tendo por finalidade restabelecer os antigos meios de produção e de troca, bem como as antigas relações de propriedade. Observa-se uma exposição histórica e descritiva da situação na época abordada.

Passou, então, a abordar o socialismo alemão, colocando-o como o verdadeiro socialismo. Também realiza uma abordagem histórica descritiva desta parte, iniciando com a entrada da literatura socialista e comunista na Alemanha, que tomou um caráter puramente literário. Trata da luta da burguesia alemã contra o movimento liberal, que deu oportunidade para o socialismo contrapor ao movimento político as suas reivindicações sociais, tornando-se uma arma nas mãos dos governantes contra a burguesia alemã, que ameaçava a pequena burguesia de destruição certa pela concentração dos capitais e pelo desenvolvimento de um proletariado revolucionário. É possível verificar um alinhamento de alguns intelectuais e alguns pequenos burgueses com a causa comunista.

Na abordagem do socialismo conservador ou burguês, expõe que nessa categoria se enfileiraram os economistas, os filantropos, os humanitários, os que se ocupavam em melhorar a sorte da classe operária, os organizadores de beneficências e os protetores dos animais. Trata-se do socialismo burguês, no qual os integrantes desejavam as condições de vida da sociedade moderna sem as lutas e os perigos que dela decorrem fatalmente, contrapondo-se aos anseios da burguesia que concebia o mundo que dominava como o melhor mundo possível. Verifica-se que parte da burguesia buscava minimizar o que entendia como sendo males sociais, para consolidar sua “visão” de sociedade, aproximando-se do socialismo.

Referindo-se ao socialismo e ao comunismo crítico-utópico, observa que estão na razão inversa do desenvolvimento histórico. Além disso, apresenta como suas propostas positivas relativas à sociedade futura a supressão da distinção entre a cidade e o campo, a abolição da família, o fim do lucro privado, a extinção do trabalho assalariado, a proclamação da harmonia social e a transformação do Estado numa simples administração da produção. Entendiam que essas propostas apenas anunciavam o desaparecimento do antagonismo entre as classes. É possível entender que a harmonia social não se alcança por meio de uma proclamação. As propostas apresentadas impõem uma mudança radical na sociedade, não para se chegar a uma harmonia, mas para que outro grupo chegue ao domínio.

Como tópico final, o manifesto trata da posição dos comunistas diante dos diferentes partidos de oposição, deixando claro, de forma resumida, que os comunistas apoiam em toda parte qualquer movimento revolucionário contra o estado de coisas social e político existente, proclamando abertamente que os seus objetivos só podem ser alcançados pela derrubada violenta de toda a ordem social existente. Nesse ponto, fica claro que a violência é tratada pelos comunistas como o instrumento para a chegada ao poder. Além disso, o manifesto afirma que as classes dominantes devem tremer diante da ideia de uma revolução comunista. Nesse segundo ponto, reforçando a violência como ferramenta a ser utilizada, transmite-se uma ideia de imposição do medo, de uso do terror.

Vários Estados se identificam como comunistas. Esses países adotaram o marxismo-leninismo ou uma variação dele. Junto com a social-democracia, o comunismo se tornou a tendência política dominante dentro do movimento socialista internacional na década de 1920. Alguns adeptos da ideologia comunista consideram que a sociedade idealizada por Marx e Engels nunca chegou a ser implementada e que, embora alguns países tenham adotado um sistema socialista, nenhum deles conseguiu chegar à etapa final, que é o comunismo. Atualmente, se dizem países comunistas China, Cuba, Coréia do Norte e Vietnã. Pode-se acrescentar a Venezuela e a Nicarágua. O comum entre eles foi o uso da violência para chegar ao poder e para mantê-lo.

Em síntese, o manifesto comunista apresenta uma análise de como a burguesia chegou ao poder e suplantou a sociedade feudal, tornando-se a classe dominante e colocando em prática a sua visão de mundo, de como a sociedade deveria se relacionar. Além disso, coloca os comunistas como representantes da classe operária, defensores do proletariado e de seus interesses, expondo as questões literárias sobre o socialismo e o próprio comunismo. Este desenvolvimento do livro serve de base para que os autores apresentem as suas ideias de como os comunistas devem se valer dos proletários para a chegada ou a tomada do poder, valendo-se do sistema burguês para dominá-lo e destruí-lo, tornando as idéias comunistas hegemônicas.

É possível observar no livro uma forte ideia da necessidade de uma ruptura, da interrupção de toda e qualquer continuidade que possa representar o domínio burguês. Para essa ruptura, caracteriza a necessidade premente e extremada do afastamento das tradições e do que é usual no pensamento burguês. Esta radicalização é obtida pela ação da força física, acompanhada pelo efeito de intimidação moral aplicada contra os oponentes ou quem pense de forma diferente. Por meio da violência, os comunistas pretendem alcançar uma transformação radical das estruturas políticas, sociais, econômicas e culturais, obtendo a desejada revolução.

Por fim, o manifesto comunista deixa claro que a violência está intrínseca às ideias comunistas e a forma de chegada ao poder, bem como o seu exercício desse poder, buscando destruir aquela categoria ou classe que entenda como sendo a sua rival ou oposição. Não é à toa que nos países onde tal regime foi adotado, instalou-se uma ditadura, perseguindo pessoas com idéias contrárias, exercendo um forte doutrinação educacional, que só reproduz o que o governo deseja, e exercendo um controle social exacerbado.

Para aprofundar e detalhar mais as ideias apresentadas neste texto é importante que se busque a leitura completa do Manifesto Comunista, bem como conhecer um pouco mais sobre os autores. Além disso, entendo ser importante uma leitura sobre a situação política dos países que se colocam mais alinhados com as ideias comunistas. Para essas atividades é possível encontrar material na internet.

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