No tocante ao conto "A Árvore de Natal da Casa de Cristo", de Fiódor Dostoiévski


O conto trata da história de um garoto em uma cidade grande da Rússia, podendo ser Petersburgo, que é citada na obra pelos seus palácios e escadarias onde crianças eram abandonadas. Apresenta a dificuldade do garoto diante da fome, do frio, da indiferença e da maldade, que lhe enchiam de angústias e medos.

Fiódor Dostoiévski foi um escritor russo que abordou questões existenciais em suas obras, criando verdadeiras obras-primas da literatura universal, como Humilhados e Ofendidos (1861), Crime e Castigo (1866) e Os Irmãos Karamázov (1880). O seu senso humano e religioso fizeram com que levasse para as suas obras questões políticas e religiosas. Além disso, colocou nos seus textos as experiencias obtidas no cárcere, quando envolveu-se na conspiração do revolucionário Mikhail Petrashevsky no combate ao regime de Nicolau I.

A pobreza e a miséria são abordadas no conto e são assuntos e fatos recorrentes na história da humanidade. A falta de recursos para a aquisição de bens e serviços essenciais a uma vida normal é abordada por diversas ciências (economia, direito, sociologia etc), dando enfoques diferentes, tentando explicar ou mesmo encontrar uma solução para pôr fim a tais condições. A falta de moradia e de alimentos tornam a situação ainda mais dramática por expor ao frio e à fome. Nesse conto, Dostoiévski traz um exemplo possível de acontecimentos em tais situações de vida.

A seguir, será realizada uma exposição sintetizada do conto A Árvore de Natal da Casa de Cristo, de Fiódor Dostoiévski, com breves opiniões e reflexões sobre aspectos específicos.

O conto inicia em um porão úmido e frio, descrevendo algumas ações do protagonista, que é um garoto de, no máximo, seis anos de idade, que brinca com o vapor branco esfumaçado que sai de sua boca em decorrência do frio. A descrição da situação deixa clara a pobreza do garoto, que esta no mesmo ambiente no qual a sua mãe se encontra morta. Expõe que a locadora do porão onde habitava havia sido presa pela polícia e que outros locatários tinham se dispersado, tendo, ainda, um homem que se encontra embriagado e uma velha que sofre de reumatismo e que dava medo na criança. A procura do garoto por comida é alternada pela tentativa de despertar a sua mãe, ambas sem sucesso.

Com a chegada da noite e a inexistência de fogo, tomado por uma angústia, o garoto sai do cômodo tateando no escuro e ganhando a rua, admirando-se com o tamanho da cidade, que contrastava com a de sua origem, onde era quente e lhe davam comida. A agitação da rua, com pessoas, cavalos, carruagens e um nevoeiro gelado não minimiza as suas sensações de fome e de frio. Além disso, há, também, a indiferentça de um agente da polícia.

Chama a atenção do garoto uma grande vidraça com um quarto onde existe uma árvore de Natal, que ia até o teto, e crianças brincando. Admira-se da beleza de uma menina, enquanto os seus dedos dos pés doiam e os das mãos ficavam roxos, não permitindo dobrá-los ou movê-los. Pondo-se a chorar, corre para longe, onde avista outra vidraça e quatro damas que distribuem bolos a todos os que se apresentam. Aquela situação o leva a abrir a porta e entrar, mas gritos e gestos de uma senhora o repelem, pondo-lhe medo e fazendo-o correr para mais longe.

O garoto chega a uma multidão que se detem olhando uma janela com curiosidade. Através da vidraça vê bonecos vestidos e com instrumentos, parecendo estarem vivos, surpreendendo-o de forma a ficar rindo da situação, deixando de lado a vontade de chorar. De repente, um tapa desferido em sua cabeça por um moleque grande e malvado, seguido por uma rasteira que o fez rolar pelo chão, provocam a sua fuga após levantar-se. Chega, dessa vez, a uma cocheira, onde se esconde, aproveitando a escuridão, encolhendo-se sem poder retomar o fôlego de tanto medo.

Bruscamente o menino sente um grande bem-estar, sem dor nas mãos e nos pés, sentindo um calor. Pensa o quanto seria bom dormir naquele lugar e depois voltar para ver os bonecos, sorrindo com a sua lembrança de achar que estavam vivos. Escuta, então, uma voz que parece ser de sua mãe, cantando, chamando-o para ver a árvore de Natal, mas não é ela. Então, alguém o abraça no escuro e estende-lhe os braços, quando uma claridade expõe uma maravilhosa árvore de Natal, em um local com meninos e meninas que o cercam como numa brincadeira de roda. Após o abraçar, as crianças o levam com elas, quando distingue a sua mãe com um ar feliz.

Questiona as demais crianças quanto aquele lugar, recebendo a resposta de que tratava-se da árvore de Natal de Cristo, que naquele dia, todos os anos, era posta para os meninos que não tiveram sua árvore na terra. Soube, então, que todas aquelas crianças tinham morrido e que, agora, eram anjos junto a Cristo, que estendia as suas mãos para abençoá-las, bem como as pobres mães, que choram em um lugar separado ao reconhecerem seus filhos, que as abraçam e enxugam as suas lágrimas, indicando estarem muito bem ali.

O conto finda com os porteiros descobrindo naquela cocheira, pela manhã, o cadáver do garoto, gelado junto de um monte de lenha, e que a mãe, após procura, é encontrada morta em um outro local, próximo dali. Os dois haviam se encontrado no céu, junto ao bom Deus.

A pobreza, como uma condição de falta de acesso à meios fundamentais para a sobrevivência, ainda é uma realidade, sendo tratada por pensadores, políticos, organizações não governamentais e diversas outras instituições. Se entendermos que o ser humano nasce sem nada e depende diretamente daqueles que o trouxeram ao mundo e que o cercam, pode-se raciocinar que todo ser humano nasce pobre e que para superar essa condição depende dos seus genitores e daqueles com quem convive. No conto não se verifica a superação da situação da pobreza do garoto, seja pela falta de condições dos que o cercam ou pela falta de compaixão e solidariedade das pessoas que interagem com ele.

A superação das adversidades da vida só podem ser promovidas pelas pessoas. Assim nos ensina a vida e a natureza. As dificuldades são superadas com o seu próprio esforço e com a ajuda dos outros. Ambas as situações devem ocorrer. Quando se tenta passar essa responsabilidade para um outro ente, não humano, Estado, organizações não-governamentais ou outras, contraria-se a natureza e o papel do próprio ser humano no mundo: cuidar da criatura e da criação. O papel é dele como indivíduo.

No conto é possível verificar que a condição de pobreza proporciona um ambiente degradado para o convívio, além de privações diversas que comprometem a saúde e a sobrevivência. Verifica-se, também, que nem sempre um local ou uma cidade mais próspera ou mais rica pode proporcionar melhres condições de vida. Destaca-se, porém, as situações de indiferença que as pessoas demonstram, chegando a externar uma falta de solidariedade ou mesmo uma maldade, não demonstrando compaixão com as situações vivenciadas pelo garoto.

Por fim, quando a falta de envolvimento das pessoas com os dramas vivenciados por outras pessoas passa a ser rotina, o sentimento esperado pelo ser humano, significa que a criatura falhou no cumprimento de sua tarefa de cuidar da criação e da própria criatura, restando, apenas, o amparo de Deus por intermédio de Cristo.

O acesso a obras como "A Arvore de Natal da Casa de Cristo" é importante para despertar o imaginário e colocar o leitor diante de realidades que passam despercebidas nas rotinas do dia a dia. Para aprofundar e detalhar mais as ideias apresentadas neste texto é importante que se busque a leitura completa do conto, bem como conhecer mais sobre Fiódor Dostoiévski. Para ambas as atividades é possível encontrar material na internet.

DOSTOIÉVSKI, Fiódor. A Árvore de Natal da Casa de Cristo. Disponível em: https://www.filosofiaesoterica.com/arvore-natal-cristo/. Acesso em: 01 dez. 2022.

FRAZÃO, Dilva. Fiódor Dostoiévski: escritor russo. Ebiografia. 30 set. 2019. Disponível em: https://www.ebiografia.com/fiodor_dostoievski/. Acesso em: 05 dez. 2022.

https://youtu.be/aNhI7tEvSDk


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